quinta-feira, 18 de junho de 2009

Um soco no estômago

Diploma de jornalismo agora é desnecessário. Um retrocesso em uma conquista.



Foi assim que me senti ao receber uma notícia na noite de ontem, 17 de junho, no intervalo das bancas de monografia da faculdade de Jornalismo onde trabalho. Paramos cinco minutos para um café e qual não foi a minha surpresa ao receber um telefone com a bela novidade: o Supremo Tribunal Federal brasileiro votou por 8 votos a 1 o fim da regulamentação da profissão de jornalista no Brasil. Não será mais exigido o diploma para o exercício legal da profissão.


Veio um filme em minha cabeça. Lembrei-me daquela turma do último ano de comunicação social quatro anos atrás e os associei ao momento presente quando passamos horas maravilhosas discutindo a comunicação, suas origens, responsabilidades, respeito ao povo brasileiro e compromisso com a ética. Os alunos deram um “banho” de seriedade ao apresentarem temas complexos do Jornalismo atual. Algumas questões geraram reflexões profundas e nos fizeram pensar sobre essa decisão insensata.


O presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, relator do projeto, se baseou em uma discussão de que a obrigatoriedade do diploma fere a liberdade de expressão, garantida pela Constituição. Falar o que quer, escrever sobre o que deseja é possível. Estamos na democracia. Mas para isso não precisa ser jornalista. A profissão pode continuar a ser regulamentada e as pessoas se pronunciarem. A questão é o retrocesso da conquista de uma categoria que sofreu muito, sendo perseguida no período da ditadura militar e que agora terá que se justificar muito para continuar a trabalhar com dignidade.


É claro que a criatividade, a seriedade e a competência de quem passa quatro anos na faculdade refletindo sobre o país e o mundo não se discute. Nos Estados Unidos e na Europa, o diploma não é exigido, no entanto, as empresas buscam aqueles que têm o curso de jornalismo para não correrem o risco de serem processadas por danos morais, sendo obrigadas a pagar indenizações enormes. Jornalistas também erram, são processados, porém, em toda profissão há bons e maus profissionais. Existem pessoas muito competentes que trabalham com comunicação. Ninguém aqui tira o mérito delas. A questão é que para isso não seria necessário acabar com a regulamentação.


Os interesses por trás dessa decisão é que assustam. O que virá com ela nas grandes empresas? Esse dia ficará marcado na história do nosso país. Podem anotar.


O ânimo, a vontade de acertar e a responsabilidade, para com a profissão, passam a ser ainda maiores, porque vale a pena ser jornalista. Tenham certeza disso. Agora é erguer a cabeça, lembrar dos maravilhosos textos lidos no período de estudo. Relembrar as discussões geradas pelos estudiosos da área. E esperar que as conseqüências para o nosso país não sejam tão drásticas.



Taís Alves – jornalista por paixão e por formação

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