segunda-feira, 23 de julho de 2012

Anoitecer

Em um final de tarde de quinta-feira, durante uma viagem de ônibus, comecei a olhar pela janela, sem me fixar em nada específico. Observava a estrada, o céu, os detalhes do caminho.

Senti uma espécie de tristeza ao ser espectador da chegada da noite. Não consigo explicar o que senti. Era um vazio,uma impotência diante do poder daquela escuridão que já começava a tomar conta do ambiente.

Comecei a pensar sobre a origem desse sentimento. O que me levava a ter essa sensação de tristeza ou até mesmo de medo?

Lembrei-me de minha infância, dos oito aos dez anos. Chegava da escola às quatro e meia da tarde, tomava banho, assistia ao Sítio do Picapau Amarelo. Quando o relógio marcava seis horas, eu tinha que sair correndo para a casa de minha avó. Levava o jantar dela. Lá assistia um pouco de televisão em preto e branco. Mas só podia ver,no máximo, a novela das sete que, naquela época, passava às sete mesmo, porque às oito em ponto começava o Jornal Nacional.

Depois disso, minha vó desligava a TV e me mandava ir dormir. Nem sempre tinha sono nesse horário. Aliás, quase nunca. Mas eu obedecia, sem reclamar, embora muitas vezes tenha derramado muitas lágrimas por isso, sem que minha avó percebesse.

Ela não era uma pessoa má, só que tinha outros hábitos e era rígida em suas ordens, porém, ela me amava e isso até causava ciúmes em outros netos.

Eu também era muito apegada a minha avó, por isso, quando meu avô faleceu, eu me ofereci para dormir todas as noites na casa dela, já que ela preferiu continuar morando sozinha a vir morar com minha família.

Naquele dia em que peguei estrada ao anoitecer, refletindo sobre o sentimento de tristeza, pensei que talvez o motivo esteja aí, no período de minha infância. Escurecer me traz a lembrança de um período distante, com recordações boas, mas também, não muito felizes.

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