terça-feira, 28 de agosto de 2012

Minha tia Alzira

Ao entrarmos pela porta da cozinha, fomos recebidos com um sorriso no canto da boca, meio tímido, o olhar baixo. Tia Alzira tinha acabado de preparar um café. O coador de pano já meio descosturado descansava em cima da pia de barro. Logo nos perguntou se já havíamos almoçado. Respondemos que não, para nós, até uma resposta óbvia, uma vez que ainda não passava das 9 horas da manhã. Porém, para ela nem tanto. Na roça a vida começa cedo. Tia Alzira já havia preparado o almoço e arrumado a cozinha. O filho do coração tinha voltado para a lida.

Hoje ela tem 89 anos, nasceu na zona rural de Laranjal, Minas Gerais, e de lá nunca saiu. De uma família de 10 irmãos, ela foi a única que não se casou. Desde muito menina trabalhava na casa de uma família. Ali viu os filhos da patroa cresceram e, quando os patrões faleceram, por ali continuou morando com um dos “meninos” que criou.

Confesso que nesta visita rápida de domingo, não desgrudei os olhos de cada detalhe daquela casa. Já na entrada uma varanda com água da mina que fica jorrando o dia todo. Ao lado dela, uma vassoura feita de folhas de plantas ficava encostada na parede. Perto da porta da cozinha um enorme fogão a lenha. A princípio, pensei que ele tivesse sido pintado de vermelho, mas depois meu pai me explicou todo o processo que o faz ficar daquele jeito.

No corredor que dava acesso aos quartos a quantidade de quadros de santos me chamou a atenção. Além disso, a geladeira azul da marca Frigidaire me fez lembrar a casa de minha avó na década de oitenta. Minha tia ainda conservava dezenas de ímãs coloridos nela.

Parecia que eu estava num local mágico. A simplicidade das coisas me fazia pensar no quanto

é possível ser feliz e com tão pouco. A minha vontade era sair fotografando tudo como se não estivesse acreditando no que via. Nos dias de hoje, parecia algo muito distante duas pessoas morarem um local em que a comunicação ainda chega através do rádio e quando alguém vai visitá-los. Na rocinha eles plantam de quase tudo. Compram apenas o indispensável.

Por alguns minutos senti que o tempo parou. Percebi que as horas naquele lugar têm uma contagem diferente daquelas com as quais estamos acostumados. Eu precisava registrar aquele momento e resolvi pedir ao meu irmão para fazer uma foto do meu pai e da minha tia dentro da casa. Dois irmãos, duas realidades completamente diferentes, apesar da mesma origem. Minha tia ficou meio apreensiva. Disse que não gosta de tirar fotos. Tem vergonha, mas aceitou o pedido da sobrinha.

Logo tivemos que partir para outras visitas. O tempo era curto. Apesar dos poucos minutos, nunca mais me esqueci daqueles momentos que me fizeram refletir sobre a vida. Espero voltar outras vezes. Muita saúde, tia Alzira. Até outro dia.

Um comentário:

Blog CulturAULE disse...

Minha afilhada na AULE, a mestra em jornalismo e coordenadora de curso universitário Taís Alves, com quem tenho aprendido, não é apenas formada, pós-graduada (e mais pós- e pós-), informada, versada; é também do-ta-da! Dona de um estilo puro - em nada prolixo e confuso -, mesmo quando escreve ao correr da pena, penso. Veia de literata, com potencial para passar à história como vulto dessa arte, ler seus escritos dá prazer, faz aprender... é relax. Ubaense, é para nós, daqui, motivo de bairrismo. Confesso aqui meu desvanecimento de ser seu confrade.